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Nem todos os abusos e agressões resultam em cicatrizes e hematomas. Na verdade, uma forma muito mais comum de abuso é a agressão verbal, que pode ser tão ou mais traumatizante do que o abuso físico — ela pode provocar efeitos negativos e duradouros no desenvolvimento social, físico e emocional das crianças. A forma mais eficaz de lidar com o abuso emocional dos seus pais é definindo limites e mantendo distância (se possível), mas você também poderá desabafar com outras pessoas sobre a situação difícil que tem vivido. Além disso, aprendendo formas de lidar com o estresse e de aumentar sua autoestima , você terá mais facilidade para lidar com o problema, tanto agora quanto no futuro.

Parte 1
Parte 1 de 4:

Procurando Ajuda

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  1. Ter alguém com quem desabafar durante uma situação abusiva pode ser bastante reconfortante, portanto, confie em um ente querido e peça ajuda — ele poderá oferecer palavras de apoio, validar seus sentimentos, ou compartilhar algum conselho. [1]
    • Diga algo como "Sei que isso poderá ser um choque para você, mas minha vida familiar é muito ruim. Minha mãe me menospreza e diz que não vou ser ninguém quando crescer. São apenas palavras, mas essa situação faz com que eu me sinta mal comigo mesmo".
    • Tenha em mente que as pessoas que praticam abuso emocional costumam fazer uma lavagem cerebral nas vítimas, dizendo que ninguém se importará, acreditará nelas, ou levará a história a sério; no entanto, talvez você se surpreenda com a quantidade de apoio que receberá ao compartilhar a história com seus entes queridos.
  2. Se você é uma criança lidando com qualquer tipo de abuso doméstico, converse com um familiar, professor, líder religioso, ou qualquer outro adulto em quem possa confiar — não permita que seus pais abusivos o pressionem a guardar segredo. Um adulto pode intervir em situações nas quais uma criança se sente completamente indefesa. [2]
    • Talvez você tenha vergonha ou não se sinta bem conversando sobre o abuso com um adulto, mas compartilhar sua história com outras pessoas é muito importante, portanto, comece dizendo algo como “Tenho enfrentado alguns problemas em casa ultimamente. Posso falar com você sobre isso?”. Outra opção seria colocar esses sentimentos no papel, se você se sentir mais confortável escrevendo.
    • Caso já tenha conversado com um dos seus professores ou instrutores, mas ele não tenha ajudado muito, marque um horário para falar sobre o problema com o orientador pedagógico da escola. [3]
    • Você também poderá ligar para o Disque Direitos Humanos, através do número 100, se não quiser falar pessoalmente com alguém. Esse telefone é gratuito, confidencial, e funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.
  3. O abuso emocional pode provocar muitos danos psicológicos e, sem o tratamento adequado, você correrá um risco maior de apresentar problemas de autoestima, e também poderá ter dificuldade para desenvolver relacionamentos saudáveis ao longo da vida. Romper com as crenças e padrões mentais negativos criados pelo abuso emocional pode ser difícil, mas um terapeuta vai ajudá-lo a enfrentar o processo com mais facilidade. [4]
    • Procure um terapeuta especializado em crianças ou adultos que sejam vítimas de abuso. Aos poucos, você se sentirá mais confortável na companhia desse profissional e começará a compartilhar suas experiências durante a terapia — ele fará perguntas relevantes e oferecerá ideias para direcionar cada sessão.
    • Caso ainda seja uma criança, verifique se sua instituição de ensino oferece algum tipo de aconselhamento psicológico gratuito — em caso afirmativo, procure o orientador ou psicólogo da escola e diga algo como "Tenho enfrentado problemas em casa. Meu pai não me bate, mas ele me insulta e me humilha na frente dos meus irmãos. Você poderia me ajudar?".
    • Caso você já seja adulto, entre em contato com seu plano de saúde e verifique se ele cobre serviços de assistência psicológica.
    • Muitos terapeutas oferecem descontos para pacientes que não podem arcar com o custo total das sessões, e você também poderá consultar o Centro de Atendimento Psicológico e Social (CAPS) , ou o serviço equivalente do seu município, para obter atendimento gratuito.
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Parte 2
Parte 2 de 4:

Mantendo distância

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  1. Retire-se do ambiente sempre que alguém começar a agredi-lo verbalmente — você não tem a obrigação de permanecer, telefonar, visitar, ou de se expor de qualquer outra forma ao abuso; portanto, não permita que os adultos usem a culpa para convencê-lo de que você merece ou precisa ser maltratado. Estabeleça e respeite seus próprios limites. [5]
    • Interrompa as visitas ou telefonemas se você estiver sofrendo abuso na casa de um dos seus pais.
    • Caso more na mesma casa que eles, vá para o seu quarto ou para a casa de um amigo quando seus pais estiverem gritando ou insultando você.
    • Defina limites se decidir manter contato com eles — diga algo como "Vou telefonar uma vez por semana, mas desligarei o telefone se você começar a ser maldoso comigo".
    • Lembre-se de que não precisamos participar de uma discussão quando não queremos fazer isso, ou seja, você não precisa defender-se de forma alguma, nem é obrigado a responder a um comentário maldoso dos adultos.
  2. Não more com pais emocionalmente abusivos e não permita que eles tenham controle sobre sua vida — muitos agressores controlam as vítimas através da dependência emocional ou financeira, portanto, ganhe seu próprio dinheiro, faça seus próprios amigos, e viva sozinho. Não dependa desses pais abusivos para nada.
    • Estude se conseguir. Procure cursos em universidades públicas ou pesquise opções de financiamento estudantil, e veja como fazer isso sem precisar da participação de um responsável — talvez você precise apresentar um documento emitido por um profissional de saúde mental, atestando os problemas de abuso doméstico.
    • Saia de casa assim que tiver condições financeiras.
    • Caso não tenha condições de terminar a faculdade sem morar com sua família ou contar com o auxílio financeiro dela, faça questão de cuidar de si mesmo e definir limites pessoais.
  3. Talvez você sinta que deve alguma coisa aos seus pais, mas essas interações familiares poderão ser uma grande fonte de sofrimento, particularmente se o abuso emocional ainda estiver presente. Portanto, considere cortar os vínculos com essas pessoas se o relacionamento proporcionar mais sofrimento do que amor. [6]
    • Você não está em dívida com uma pessoa que o abusou.
    • Além disso, você não deve explicações a ninguém se seus familiares ou vizinhos não compreenderem o motivo do corte de relações.
    • Ter uma última conversa com um pai abusivo para "colocar um ponto final na história" nem sempre será possível — caso você não queira mais manter contato com ele, mas tenha medo de nunca conseguir "encerrar esse capítulo" da sua vida, pergunte-se: ele se mostrou disposto a ouvir? Ele reconheceu meus sentimentos? Se as respostas forem negativas, talvez a melhor opção seja simplesmente eliminar o contato de uma vez por todas.
    • Caso decida cuidar dos seus pais em algum ponto da vida, sempre mantenha o foco das discussões nos cuidados deles, e em nada mais. Retire-se imediatamente do ambiente se eles começarem a apresentar um comportamento verbalmente abusivo — mostre que você não vai tolerar esse tipo de atitude.
  4. Não permita que eles sofram o mesmo tipo de abuso que você sofreu na infância, portanto, intervenha quando seus pais fizerem críticas inapropriadas ou ofenderem as crianças. Coloque um ponto final na conversa ou pare de visitá-los com a família.
    • Encerre o assunto dizendo algo como "Nós não falamos assim com o Miguel. Você pode conversar comigo se tiver algum problema com os modos dele à mesa". Embora a maioria das conversas entre adultos deva ocorrer em particular, seu filho precisará ver e ouvir que você vai protegê-los em caso de abuso.
    • As crianças terão uma infância mais feliz se não forem submetidas aos abusos dos avós.
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Parte 3
Parte 3 de 4:

Cuidando de si mesmo

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  1. Provavelmente, você já consegue reconhecer quais gatilhos (palavras ou ações) despertam o comportamento abusivo dos seus pais — nesse caso, você poderá evitá-los com mais facilidade, ou se retirar do ambiente a tempo de evitar uma agressão. A forma mais fácil de reconhecer tais gatilhos é conversando com um amigo ou escrevendo sobre as situações em um diário, já que isso vai ajudá-lo a identificar quais fatores contribuem para o abuso.
    • Digamos que sua mãe sempre grite e o insulte quando está bêbada — nesse caso, saia de casa quando ela começar a beber.
    • Caso seu pai tente desmerecer suas realizações sempre que você consegue alguma coisa, evite compartilhar esse tipo de boa notícia com ele — em vez disso, conte a novidade para pessoas que o apoiem.
  2. Procure ambientes (como seu quarto) que possam funcionar como refúgios; além disso, procure lugares para se divertir, passar o tempo e cuidar das suas tarefas, como a biblioteca ou a casa de um colega. Além de poder contar com o apoio dos amigos neste momento, você também evitará as acusações e o desdém dos seus pais.
    • Proteger-se do abuso é uma atitude inteligente, mas você também precisará reconhecer que a situação não é sua culpa — nenhuma palavra ou atitude justifica a agressão emocional de alguém.
  3. O abuso ainda não é físico, mas isso não significa que as coisas não possam piorar — portanto, crie um plano para se proteger caso seus pais adotem uma postura violenta e sua vida ou integridade física fique em risco.
    • O plano deverá incluir um lugar seguro, o número de telefone de alguém que possa ajudá-lo, e os passos necessários para denunciar o agressor às autoridades, se as coisas chegarem a esse ponto. Conte com o auxílio de outro adulto, como um psicólogo ou orientador pedagógico, para elaborar um plano que vai ajudá-lo a se sentir seguro nos momentos de crise. [7]
    • Planeje-se também para sempre ter um celular carregado por perto, além das chaves do carro, se você já tiver um.
  4. A autoestima saudável é o melhor antídoto para a agressão emocional, mas, infelizmente, as vítimas de abuso costumam ter uma autoimagem negativa e, muitas vezes, acabam entrando em outros relacionamentos abusivos por causa disso. Combata os problemas de autoestima passando mais tempo ao lado de amigos, familiares afetuosos e de outras pessoas que o ajudem a se sentir melhor consigo mesmo, e não pior. [8]
    • Outra forma de aumentar a autoestima é participando de atividades que você faça bem, portanto, participe de uma equipe esportiva ou de um grupo de estudos na escola ou no seu bairro. Tal iniciativa oferecerá duas vantagens: além de ajudá-lo a se sentir melhor consigo mesmo, esses hobbies propiciarão um motivo para passar menos tempo dentro de casa.
  5. Você tem todo o direito de estabelecer limites nos relacionamentos, portanto, caso se sinta seguro para tomar tal atitude, converse com seus pais e diga quais comportamentos deles são aceitáveis, e quais não são. [9]
    • Além disso, determine quais serão as consequências se seus limites forem desrespeitados. Algumas pessoas abusivas não respeitam os limites pessoais alheios e, nesse caso, você não deverá sentir-se culpado por fazer valer suas consequências [10] — colocá-las em prática é muito importante, já que as ameaças vazias minam sua credibilidade com os agressores.
    • Diga algo como “Mãe, vou mudar para a casa da vovó se você me insultar novamente quando chegar em casa bêbada. Quero ficar com você, mas esse tipo de comportamento me assusta".
  6. Não tenha dúvidas: o abuso emocional pode gerar muito estresse e, muitas vezes, pode provocar problemas duradouros, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e a depressão. Portanto, desenvolva um arsenal de atividades positivas para conseguir lidar com o o problema.
    • Os hábitos saudáveis de gestão do estresse, como a meditação , a respiração profunda, e a yoga, vão ajudá-lo a se sentir mais calmo e centrado no dia a dia. Caso seus sintomas sejam intensos, consultar um terapeuta poderá ser uma ótima forma de aprender a lidar com o estresse e com outras emoções negativas. [11]
  7. Independentemente do que os adultos digam, você é uma pessoa importante e cheia de qualidades, portanto, não dê ouvidos a insultos e chacotas. Talvez isto leve algum tempo, mas é importante que você desenvolva autoestima e aprenda a se amar — particularmente se não recebe esse amor em casa.
    • Pense em tudo o que aprecia na sua personalidade — você sabe ouvir com atenção? É generoso? Inteligente? Concentre-se nas coisas que admira em si mesmo, e lembre-se de que todos nós merecemos amor, respeito e cuidados. [12]
    • Dedique-se aos seus talentos e participe de atividades divertidas para aumentar a autoconfiança e a autoestima.
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Parte 4
Parte 4 de 4:

Identificando o abuso emocional

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  1. Esse problema pode ocorrer em qualquer família, mas alguns fatores contribuem para o aumento do risco de abuso físico ou emocional na infância. Os pais estão mais propensos a se comportarem assim se abusam do álcool ou das drogas; se também foram agredidos na infância; ou se sofrem de transtornos mentais como a depressão e o transtorno bipolar, mas não recebem o tratamento adequado. [13]
    • Muitos pais abusivos sequer percebem que suas atitudes são prejudiciais — talvez eles não conheçam outra forma de criar uma criança, ou talvez não percebam que descontar as próprias emoções nos filhos também é uma forma de abuso.
    • Pais bem-intencionados também podem ser abusivos.
  2. Talvez ele diga essas coisas como uma piada, mas o abuso não é motivo de riso — uma situação é emocionalmente abusiva se os adultos sempre tiram sarro de você, se fazem pouco caso das suas ideias e preocupações, ou se o depreciam na frente de outras pessoas. [14]
    • Digamos que seu pai diga algo como "Você é burro. Não consegue fazer nada direito" — essa é uma forma de abuso verbal.
    • Talvez ele fale essas coisas entre quatro paredes ou na frente de outras pessoas, fazendo com que você se sinta mal consigo mesmo.
  3. Caso os adultos tentem controlar todos os seus passos, fiquem irritados quando você toma as próprias decisões, ou façam pouco caso das suas habilidades ou autonomia, esses comportamentos são indícios de uma situação abusiva.
    • Os indivíduos controladores costumam tratar as vítimas como pessoas inferiores que são incapazes de tomar boas decisões ou de assumir a responsabilidade por si mesmas. [15]
    • Talvez os adultos tentem tomar decisões por você — sua mãe poderia visitar sua escola e conversar com o orientador vocacional sobre uma carreira que você não tenha a menor vontade de seguir, por exemplo.
    • Eles poderão acreditar fortemente que estão apenas sendo "pais", mas esse comportamento é abusivo.
  4. Reflita se eles sempre o acusam de alguma coisa — alguns agressores cultivam altas expectativas em relação às vítimas, mas se recusam a aceitar a responsabilidade pelos próprios erros.
    • Esses indivíduos encontram meios de culpar a vítima por todo e qualquer motivo, até mesmo por situações pelas quais nenhuma pessoa razoável criticaria a outra. Talvez eles digam que você é a causa dos problemas deles porque, dessa forma, seus pais não precisam assumir a responsabilidades pelos próprios atos e sentimentos. [16] Além disso, eles também podem responsabilizar os filhos pelas próprias emoções.
    • Digamos que sua mãe o culpe por ter nascido porque a maternidade a obrigou a abandonar a carreira de cantora — na verdade, essa situação não é culpa sua.
    • Quando os pais dizem que o casamento foi destruído "pelos filhos", eles estão descontando a própria incapacidade de lidar com as mudanças da vida nas crianças.
    • Culpar uma pessoa por algo que ela não tenha feito é outra forma de abuso.
  5. Os adultos que se distanciam e se recusam a manter a proximidade emocional necessária com os filhos também estão praticando uma forma de abuso infantil.
    • Eles o ignoram quando você faz algo que os aborrece, demonstram pouco interesse por suas atividades e emoções, ou tentam culpá-lo pelo próprio distanciamento? [17]
    • Ninguém deveria ter que negociar amor e afeto com a família, portanto, essa situação é abusiva.
  6. Alguns pais, particularmente aqueles com tendências narcisistas, podem enxergar os filhos como uma extensão de si mesmos — nesse caso, é impossível que eles desejem o melhor para você, mesmo que acreditem piamente que tem seus melhores interesses em mente.
    • Alguns sinais de narcisismo incluem desrespeitar seus limites pessoais, tentar manipulá-lo para convencê-lo a fazer o que acreditam ser "melhor" para sua vida, e demonstrar aborrecimento quando você não atende às expectativas irrealistas deles. [18]
    • As pessoas narcisistas também costumam ficar muito incomodadas quando os filhos recebem mais atenção do que elas, portanto, sempre procuram ser o centro das atenções.
    • Um pai ou mãe solteira poderia fazer o filho se sentir culpado com frases como "Sei que seus amigos estão dando uma festa, mas estou tão sozinha aqui. Você sempre me abandona" — jogar esse tipo de culpa nos filhos é uma forma de abuso.
  7. As crianças e adolescentes cometem erros, e essa é uma parte normal da vida do ser humano e do processo de amadurecimento — portanto, o trabalho dos pais é oferecer orientação, apoio e disciplina, sempre que necessário. Aprender a distinguir o comportamento abusivo das táticas disciplinares normais é muito importante.
    • Geralmente, podemos distinguir essas duas coisas de acordo com o tamanho da raiva exibida pelos adultos — a maioria das pessoas se sente zangada ou frustrada quando os filhos desrespeitam alguma regra.
    • Porém, quando a raiva alimenta um certo comportamento ou punição, uma pessoa pode estar prestes a assumir um comportamento abusivo. O abuso emocional envolve palavras e ações conscientes e imprudentes, que têm a intenção clara de magoar alguém. [19]
    • Talvez você não goste de viver sob uma disciplina rígida, mas procure compreender que seus pais estabelecem regras e consequências para protegê-lo e ajudá-lo a se desenvolver positivamente.
    • Observe alguns dos seus amigos que tenham relacionamentos saudáveis com os pais — como são esses relacionamentos? Que tipo de apoio e disciplina eles recebem da família?
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