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Existem várias razões pelas quais alguém pode querer escrever sobre a própria vida, como uma vontade de deixar um relato das memórias para os filhos e as futuras gerações, um registro pessoal para recordar aventuras da juventude na velhice, quando nossa memória já não é mais a mesma, ou para oferecer algo valioso para o resto do mundo. Escrever um livro de memórias é uma experiência extremamente pessoal, mas que pode ser bastante recompensadora se você estiver disposto a compartilhar a sua história de vida.

Parte 1
Parte 1 de 3:

Preparando-se para escrever

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  1. Em um livro de memórias, você é o personagem principal da sua própria vida. Muitos memorialistas usam acontecimentos que vivenciaram em primeira mão para tecer uma trama envolvente para o leitor. Como são as suas memórias que vão servir de fonte para o livro, é possível que você descreva as coisas de um jeito diferente do que outras pessoas achem que aconteceu. O segredo é relatar tudo do jeitinho que você se lembra, da forma mais sincera possível. Lembre-se, também, de que a diferença entre um livro de memórias e uma autobiografia é que o primeiro gênero trata apenas de alguns aspectos da vida do autor ao passo que o segundo engloba desde o nascimento até o momento da escrita. [1]
    • A maioria dos memorialistas tem dificuldade para começar a escrever. É difícil saber por qual ponto começar. Dependendo de como foi a sua vida até o momento, entre em contato com familiares para conseguir detalhes a respeito de uma memória ou um acontecimento de quando você era criança. No entanto, não se esqueça de dar atenção à sua vivência pessoal e às suas recordações da infância, mesmo que elas sejam falhas. No geral, os melhores livros de memórias são sobre o processo de recordação de um acontecimento ou sobre os esforços do autor para entender um momento importante do passado.
  2. Existem diversos livros de memórias bons, alguns dos quais são considerados clássicos do gênero:
    • Fala, Memória , de Vladimir Nabokov. Um dos trabalhos mais elogiados de Nabokov, considerado um grande autor de ficção, são as memórias de infância do escritor na Rússia. O livro é um ótimo exemplo de como usar a prosa literária e a arte de contar histórias para relatar experiências pessoais.
    • O Ano do Pensamento Mágico , de Joan Didion. O livro de Didion foca nas mortes súbitas do marido e da filha adulta da autora, separadas por alguns meses. A obra é um ótimo exemplo do uso da memória para infomar o presente, que, para Didion, é repleto de dor e de um alto senso de mortalidade.
    • Maus , de Art Spiegelman. A graphic novel usa animais para abordar as lembranças de Spiegelman e da relação do autor com o pai, um ex-prisioneiro de um campo de concentração durante o Holocausto. A opção pelos animais ajuda a tornar a obra universal e de fácil identificação.
    • Memórias do Cárcere , de Graciliano Ramos. As memórias de Ramos como um preso político durante a Era Vargas jamais chegaram a ser concluídas, mas, ainda assim, são um dos principais exemplos do gênero no Brasil. Além de um excelente relato pessoal, o livro também pinta um retrato vívido de toda uma época histórica.
  3. Escolha um ou dois exemplos e leia-os com atenção. Durante a leitura, faça-se algumas perguntas:
    • Por que o autor escolheu chamar atenção para determinados eventos no livro? Tente entender porque o memorialista escolheu focar em uma determinada parte da infância ou em um acontecimento específico. Didion, por exemplo, fala sobre as mortes recentes do marido e da filha em O Ano do Pensamento Mágico , ao passo que Nabokov aborda a própria infância na Rússia em Fala, Memória . Um livro foca no passado recente, enquanto o outro foca no passado distante. Ainda assim, os acontecimentos relatados em ambos tiveram um forte impacto nos autores, sendo responsáveis até mesmo por possíveis traumas.
    • Quais são as intenções do narrador? O que motivou o autor a compartilhar uma determinada história com o leitor? É comum que um livro de memórias seja catártico para o escritor. Talvez ele esteja tentando processar um período de dor e perda, como Didion em O Ano do Pensamento Mágico , ou talvez ele esteja tentando entender melhor como a passagem por um campo de concentração pode mudar uma pessoa, como Spiegelman em Maus . Pense bem sobre as motivações por trás da apresentação de uma determinada história para o público geral.
    • Como o livro mantém o leitor envolvido e interessado? Os melhores livros de memórias são os mais honestos e abertos, com detalhes e confissões que o autor pode ter até mesmo medo de revelar. O autor pode optar por uma escrita sincera, cheia de momentos que não o façam parecer uma pessoa boa ou conturbada. Os leitores costumam reagir positivamente a marcas de vulnerabilidade e a escritores que não têm medo de falar das próprias falhas além dos sucessos.
    • Você ficou satisfeito com o final? Por quê? Ao contrário de uma autobiografia, um livro de memórias não precisa ser linear, com começo, meio e fim. A maioria das obras do gênero termina sem uma conclusão fechada, com uma vida ainda por viver. O normal é que as memórias terminem com considerações a respeito de um tema presente em todo o livro ou com reflexões acerca de um momento transformador da vida do autor.
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Parte 2
Parte 2 de 3:

Montando a estrutura da história

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  1. No seu livro de memórias, o narrador é você. Logo, você vai usar a primeira pessoa, “eu”, para guiar o leitor pela sua história. Porém, é importante que o seu livro seja voltado para uma necessidade ou um desejo específico. É a sua vontade que vai vender a trama e fazer com que os outros queiram ler sobre a sua vida. Tire um tempinho para pensar no seu desejo central, ou seja, naquilo que motiva o narrador a falar da própria vida. O narrador deverá se esforçar para realizar esse desejo por meio da história, eventualmente chegando a uma epifania a respeito de um momento importante da própria vida. [2]
    • Tente resumir o desejo do seu narrador em uma frase. Por exemplo: “Eu quero entender a decisão da minha mãe de trazer a família para o Brasil”. Ou: “Eu quero trabalhar na minha saúde mental depois de uma experiência com a morte”. Ou: “Eu quero explorar as minhas experiências como piloto durante a Segunda Guerra Mundial”.
    • Delineie o seu desejo central de maneira direta e evite afirmações vagas. É possível que o seu desejo central mude durante a escrita do livro. Ainda assim, é bom tê-lo em mente de maneira clara antes de começar a escrever.
  2. Depois que tiver uma boa ideia do que você quer explorar nas suas memórias, identifique as ações e os obstáculos que o narrador deve enfrentar para realizar o desejo central. Os obstáculos e desafios vão deixar a história mais emocionante e motivar o leitor a continuar virando as páginas. Você é responsável pela ação da sua história e, para ser interessante, é essencial que uma trama seja movida por ações. [3]
    • Tente descrever suas ações e obstáculos em frases curtas, como: “Para realizar meu desejo central, eu fiz aquilo. Mas, então, um obstáculo entrou na minha frente. Então, eu fiz isto para vencer esse obstáculo”.
    • Por exemplo: “Para entender porque minha mãe trouxe a família para o Brasil, eu tentei localizar a nossa família na Polônia. Porém, eu não consegui encontrá-los devido à falta de registros e à perda de contato com parentes. Então, eu viajei para a Polônia para tentar entender a minha mãe e a família dela”.
  3. É comum que escritores tenham dificuldade para começar uma história. O problema pode ser ainda maior em memórias, em que os autores precisam escolher entre inúmeros detalhes e cenas importantes ou que dariam um bom pontapé inicial. Uma forma de começar é descobrindo o incidente motivador e o incidente final da trama. Na hora de escrever o livro, você vai precisar dramatizá-los. [4]
    • O incidente motivador é o momento transformador da sua história, aquele em que você descobriu qual é o seu desejo central. Ele pode ser aparentemente desimportante, como uma briguinha com a sua mãe que cresceu até se transformar em um acontecimento grandioso ou em um incidente motivador. Pode ser que a briga tenha sido a última vez em que você falou com a sua mãe antes dela morrer, deixando para trás cartas sobre a vida na Polônia. Pense no momento em que você finalmente entendeu o que queria da vida ou em que você percebeu que estava errado a respeito de um acontecimento específico.
    • O incidente final é o momento em que o narrador realiza o desejo central. Ele vai ajudar você a bolar um final para o livro. Pode ser, por exemplo, o momento em que você entendeu o porquê de sua mãe ter resolvido deixar o país natal dela.
  4. Mesmo que você esteja escrevendo um livro de memórias, seguir os princípios da ficção, como fazer um rascunho do enredo, pode ajudá-lo a dar forma à história, além de tornar mais fácil organizar o material de pesquisa de uma forma interessante e envolvente para o leitor. O enredo é o que acontece na história e em que ordem. Para que haja uma história, algo deve mudar ou sair do lugar. Algo ou alguém deve sair do ponto A para o ponto B devido a um acontecimento material, a uma decisão, a uma mudança em um relacionamento ou a uma transformação de caráter e personalidade. O rascunho do enredo deve conter as seguintes informações: [5]
    • O objetivo final. Todo enredo é uma sequência de acontecimentos voltados para a solução de um problema ou a obtenção de um objetivo. O objetivo final é aquilo que o narrador deseja obter ou resolver, ou seja, o desejo central.
    • As consequências. Pergunte a si mesmo que tragédia aconteceria se o objetivo final não fosse atingido. O que o protagonista teme que aconteça se ele não conseguir alcançar o objetivo ou resolver o problema? As consequências são os acontecimentos negativos resultantes da não obtenção do objetivo. A combinação do objetivo com as consequências é responsável pela tensão dramática da trama, ou seja, é o que dá importância à sua história.
    • Os pré-requisitos. Esses são os elementos de que o protagonista precisa para alcançar o objetivo final. Pense nos pré-requisitos como uma lista de um ou mais acontecimentos pelos quais o personagem deve passar ao longo da história. Conforme eles forem sendo preenchidos, os leitores perceberão que o narrador está chegando mais perto do objetivo final. Os pré-requisitos ajudam a criar uma certa ansiedade na mente do leitor, fazendo com que ele torça pelo sucesso do protagonista.
  5. Dependendo de qual for a sua história, pode ser que você precise fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre um determinado assunto, como a vida de pilotos durante a Segunda Guerra ou em um campo de refugiados polonês. No entanto, evite pesquisar demais antes de começar o primeiro esboço. Do contrário, você corre o rico de ficar perdido no meio de tanta informação e acabar esquecendo a sua visão pessoal dos fatos. Lembre-se de que o livro deve ser sobre as suas memórias, e não um relato factual ou histórico. [6]
    • Faça a sua pesquisa na internet, em livraria, em arquivos, em jornais antigos e em registros em microfilme. [7]
    • Também pode ser uma boa ideia entrevistar “testemunhas”. Converse com pessoas que tenham participado de determinado acontecimento para obter relatos. Você vai precisar seguir pistas, entrevistar fontes, transcrever as entrevistas e ler um material bem extenso. [8]
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Parte 3
Parte 3 de 3:

Escrevendo a história

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  1. Assim, você vai conseguir ter uma boa ideia de quanto tempo você vai levar para escrever a primeira versão do livro. Caso tenha um prazo, monte um cronograma mais apertado se tiver bastante tempo para escrever. [9]
    • Tente organizar o seu cronograma com base no número de páginas ou palavras. Caso consiga escrever por volta de 750 palavras por hora, leve isso em conta. Já se se achar capaz de escrever duas páginas por hora, use esse número como uma estimativa.
    • Pense em quanto tempo você vai levar, em média, para escrever um determinado número de palavras ou páginas por dias. Caso tenha uma contagem final em mente, como 50 mil palavras ou 200 páginas, pense em quantas horas por semana você vai precisar passar escrevendo para alcançar o seu objetivo. [10]
  2. É possível que você se sinta pressionado a reescrever várias vezes todas as frases que colocar no papel. Porém, parte de escrever um livro de memórias é fazer um relato sincero de um acontecimento importante, nas suas próprias palavras e no seu estilo. Evite colocar uma máscara de “escritor”. Não tenha medo de escrever do jeito como você fala, com todas as gírias e regionalismos. O objetivo é que a história soe como se estivesse saindo da sua boca. [11]
    • Use o rascunho do enredo para ter uma ideia de para onde a história está caminhando. Porém, sinta-se livre para explorar algumas cenas nessa primeira versão. Não se preocupe em deixar tudo perfeitinho. Ative a memória para dar vida à sua própria verdade interior.
  3. O uso da voz passiva vai deixar a sua prosa truncada e arrastada. Circule verbos como “é”, “era”, “tinha sido”, “parecia” e “foi” para encontrar sinais da voz passiva no seu manuscrito.
    • Use o corretor gramatical ou um aplicativo específico [12] para contar o número de frases na voz passiva no seu manuscrito. Tente ficar entre 2% e 4%.
  4. Em vez de “utilizar”, diga apenas “usar”. Mantenha a linguagem simples, com palavras de, no máximo, três sílabas. Passe para uma linguagem mais rebuscada apenas quando precisar usar termos científicos ou descrever um processo técnico. Mesmo nesses caso, não se esqueça de que você está escrevendo para um leitor médio.
    • Tente identificar o nível de compreensão escrita do seu leitor ideal. Para isso, delimite o nível de escolaridade dele. Caso esteja levando em conta pessoas que não têm o português como primeira língua, escreva para pessoas com, no máximo, o ensino fundamental completo. Já se estiver mirando em um público mais escolarizado, escreva em uma linguagem compreensível para quem completou o ensino médio. Existem diversos sites e aplicativos que podem ajudá-lo a determinar o nível de complexidade da sua escrita. [13]
  5. Para deixar o seu leitor mais envolvido, tente sempre mostrar as ações e cenas da história para ele em vez de simplesmente contá-las. Escreva, por exemplo, uma cena mostrando como você encontrou as cartas que a sua mãe recebeu dos parentes poloneses após a morte dela. Assim, o leitor receberá a informação necessária para continuar a leitura de uma forma interessante, e não por meio de uma passagem longa e parada.
  6. Procure ouvintes dispostos a ajudá-lo (como amigos, colegas ou um grupo de escritores) e leia partes do manuscrito em voz alta. Um livro bem escrito capta os leitores pelo ouvido, com detalhes e descrições capazes de criar imagens realistas e uma narrativa forte. [14]
    • Não tente impressionar os ouvintes nem altere a voz para imitar a sua ideia de um escritor. Leia naturalmente, sem pressa. Após terminar, pergunte a opinião dos ouvintes. Tome nota se eles apontarem passagens confusas ou pouco claras.
  7. Caso esteja planejando mandar o seu livro de memórias para uma editora, você vai precisar revisar o manuscrito. Pode ser uma boa ideia contratar um revisor profissional para passar um pente fino no livro e encontrar errinhos comuns. [15]
    • Não tenha medo de cortar no mínimo 20% do material. Você provavelmente pode mandar embora algumas partes excessivamente longas e desinteressantes para o leitor. Vá com tudo e corte fora capítulos e páginas que mais atrapalham do que ajudam.
    • Veja se as cenas do seu livro estão usando os sentidos do leitor. Pelo menos um dos cinco sentidos deve ser mobilizado em cada cena. Tornar a narrativa mais vívida por meio dos sentidos (paladar, tato, olfato, visão e audição) é um truque que pode ser usado tanto por autores de ficção quanto de não-ficção para prender o interesse do leitor.
    • Dê uma olhada na linha do tempo da trama. Você seguiu o seu desejo central até o fim? O final deixa os leitores com uma sensação de completude ou vitória?
    • No nível da frase, veja se as transições entre parágrafos estão fluidas. Procure advérbios e palavras usadas em excesso e troque-as por outras para que a sua prosa não fique repetitiva.
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