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Escrever um romance de suspense (ou melhor, de qualquer gênero) é uma tarefa complicada. Pensando assim, você pode organizar as suas ideias no papel antes de começar de fato para não se perder. Depois, crie personagens, vítimas, suspeitos e protagonistas para dar o pontapé inicial na narrativa!

Parte 1
Parte 1 de 4:

Pensando na estrutura do romance

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  1. A ambientação da história nem sempre é tão importante no início, a menos que você tenha uma ideia geral de onde quer que ela aconteça de fato. Essa ambientação inclui o local, a data, a época do ano, a região geográfica e até o clima. [1]
    • Pense no clima (não de tempo) que você quer dar à história, que é bastante influenciado pelo local onde ela acontece.
    • Por exemplo: um suspense ambientado em São Paulo no início do século XIX seria muito diferente de outro, ambientado no interior de Minas Gerais no início do século XX.
    • Outro exemplo: os romances estrelados por Sherlock Holmes criam toda uma ambientação soturna a partir da Era Vitoriana e de Londres.
  2. A narrativa inclui todos os passos do romance, indo do início ao fim. Geralmente, ela tem oito etapas: inércia, gatilho, busca, surpresa, escolha crítica, clímax, inversão e resolução (embora esses nomes variem de autor a autor). [2]
    • Na inércia, tudo ainda está na normalidade. Você pode começar contando o dia a dia do detetive, de uma testemunha ou de qualquer ponto de vista que queira abordar. O gatilho, por sua vez, é o evento que dá o pontapé inicial à busca (geralmente, um assassinato em suspenses).
    • A surpresa está nas complicações que surgem a cada momento da narrativa. Em um romance de suspense, as surpresas podem acontecer quando urgem novas provas do crime, novas motivações para o que aconteceu, novos suspeitos e assim por diante.
    • A escolha crítica é o ponto crucial da história do protagonista. É nesse momento que ele tem que decidir como vai agir para terminar o enredo — e, muitas vezes, a decisão não é fácil e define o caráter do personagem. De forma geral, essa decisão leva ao clímax, momento em que a ação e a tensão chegam ao ponto máximo. Por exemplo: o detetive pode começar a perseguir o suspeito para capturá-lo.
    • A inversão e a resolução mostram como os personagens mudaram e o que caracteriza a nova realidade deles.
    DICA DE ESPECIALISTA

    Lucy V. Hay

    Escritora Profissional
    Lucy V. Hay é uma autora, roteirista e blogueira que ajuda outros escritores através de workshops, cursos e de seu blog, Bang2Write. Lucy é produtora de duas séries de suspense britânicas e seu romance de estreia, "The Other Twin', está sendo adaptado pela Free@Last TV, que também produziu a série indicada ao Emmy "Agatha Raisin".
    Lucy V. Hay
    Escritora Profissional

    Comece com a pergunta à qual o personagem principal tem que responder . A escritora e roteirista Lucy Hay afirma: "O roteiro de um suspense é complexo. No geral, ele começa com um crime ou uma pergunta a que alguém tem que responder. Além disso, há um personagem que assume o 'papel' de detetive no centro narrativo. Essa pessoa não precisa literalmente trabalhar com investigação, mas deve ter motivação para sanar a dúvida que tem em mente".

  3. Você tem que deixar o leitor com a pulga atrás da orelha o tempo todo. Dá até para começar o enredo com um cadáver e detetives investigando a cena, mas é muito mais interessante fazer o leitor se questionar o que está acontecendo desde o início. [3]
    • Crie uma situação hipotética improvável. Por exemplo: um enredo em que uma mulher tire os seus filhos do seu testamento e deixe tudo para um homem que está no leito de morte; logo depois, alguém é assassinado. Isso é interessante, dá um gosto de quero mais e não é exatamente corriqueiro.
  4. Depois de decidir os passos básicos da narrativa, passe a montar um esqueleto mais detalhado dela. Avance de capítulo a capítulo, sempre escrevendo uma descrição breve do que vai acontecer para não se perder na hora de colocar tudo no papel pela última vez.
    • Por exemplo: escreva "Capítulo 1: apresentar a protagonista, a detetive Rebeca Novaes. Começar em casa, mostrando ela se arrumando para o trabalho. O telefone toca e ela descobre que houve um homicídio".
  5. Essas pistas se encaixam em três categorias: físicas, verbais e temáticas. As pistas físicas são: gotículas de sangue, rastros de DNA que podem ser analisados, marcas de pegadas etc.; as verbais são as coisas que os personagens dizem uns aos outros; as temáticas são aquelas que têm a ver com trejeitos e características desses personagens, como um vilão que só usa preto ou tem um tique nervoso. [4]
    • Você pode criar essas pistas de duas formas diferentes: imediata, como quando o assassino deixa cair um objeto pessoal na cena do crime (que o leitor nota ou não), e futura, como quando os investigadores fazem um teste com uma amostra de DNA e o leitor demora um pouco para ser informado do resultado.
    • Também existe uma diferença no nível de sutileza. Algumas pistas são bastante óbvias, como quando o assassino deixa a arma na cena do crime. Outras são mais sutis, como quando a roupa que a vítima está usando ajuda na resolução do homicídio.
    • Você não precisa incluir todas as pistas nos estágios iniciais do planejamento, mas pelo menos pense em alguns pontos indispensáveis ao longo do romance. Também não adianta tentar enfiar tudo em uma só cena.
    DICA DE ESPECIALISTA

    Lucy V. Hay

    Escritora Profissional
    Lucy V. Hay é uma autora, roteirista e blogueira que ajuda outros escritores através de workshops, cursos e de seu blog, Bang2Write. Lucy é produtora de duas séries de suspense britânicas e seu romance de estreia, "The Other Twin', está sendo adaptado pela Free@Last TV, que também produziu a série indicada ao Emmy "Agatha Raisin".
    Lucy V. Hay
    Escritora Profissional

    Despiste o leitor para aumentar o suspense . A escritora e roteirista Lucy Hay afirma: "Um bom suspense traz elementos que deixam o problema central bastante nebuloso. Muitos autores despistam o leitor de propósito e, assim, constroem narrativas para lá de espertas".

  6. Você tem que saber do que está falando para convencer o leitor. Por exemplo: se pretende escrever um suspense que traga rituais bíblicos ou pagãos, estude esse assunto de maneira aprofundada. [5]
    • Você pode pesquisar na internet, mas não se esqueça de usar também recursos como a biblioteca pública local.
    • Dá para descobrir bastante com uma pesquisa básica, mas contar com a experiência é ainda melhor. Por exemplo: participe de algum ritual que tenha a ver com a história que você quer escrever.
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Parte 2
Parte 2 de 4:

Criando os personagens

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  1. Você pode criar uma ficha para cada personagem importante da narrativa — para nunca se esquecer da função deles. Inclua descrições físicas, um pouco da história de vida (até o que aconteceu antes do início do enredo), com o que eles trabalham, o que estudaram e como é a sua personalidade.
    • Você pode incluir também as idiossincrasias e peculiaridades dos personagens.
    • Consulte essas fichas para nunca se confundir ou esquecer de detalhes dos personagens.
  2. Personagens bonzinhos demais nunca ficam tão interessantes assim. Pense em sujeitos complexos, com qualidades e defeitos, mas que chamem a atenção do leitor. [6]
    • Por exemplo: pode ser que o personagem viva chegando atrasado, não tenha uma boa relação com a mãe e odeie os colegas de trabalho. Inspire-se até em conhecidos seus!
    • Um personagem pode despertar empatia de diversas formas. Por exemplo: talvez ele esteja tendo problemas financeiros ou seja a vítima do crime; talvez seja uma pessoa altruísta, mesmo que tenha os seus momentos de egoísmo.
    • O personagem Sherlock Holmes, um dos mais famosos protagonistas de suspenses da literatura, não é necessariamente agradável. No entanto, ele é interessante e capta a atenção dos leitores por ser inteligente e bom no que faz.
  3. Geralmente, não adianta colocar só um suspeito na história. Qual é a graça disso? Pense em cinco ou seis personagens que possam ter cometido o crime. [7]
    • A história fica muito mais interessante quando há diversos suspeitos, já que o leitor tem que tentar descobrir quem é o criminoso real.
  4. Cada pessoa enquadrada como suspeito deve ter uma motivação forte e plausível o bastante para ter matado a vítima. Caso contrário, o texto vai ficar chato de ler. Fuja do óbvio, como usar a herança que o morto deixaria como motivação para todos os suspeitos. [8]
    • Veja alguns exemplos legais de motivações: se um suspeito queria guardar um segredo, outro queria ficar com milhões da vítima e um terceiro estava com inveja dela etc.
  5. A pessoa que de fato for culpada pelo homicídio deve ter plena capacidade de cometer o crime, seja física ou emocionalmente. Caso contrário, o leitor vai se sentir enganado. [9]
    • Por exemplo: um homem velho e mirrado provavelmente não conseguiria pegar um cadáver e jogá-lo ponte abaixo, mesmo que estivesse cheio de adrenalina.
  6. Muitas vezes, um romance de suspense tem como protagonista o detetive que investiga o crime. Você pode contar a história do ponto de vista dele (algo bem intenso, mas profissional) ou optar pela terceira pessoa (onisciente), dede que conheça o personagem central de cor e salteado. [10]
    • Pense nos seguintes termos: o detetive é uma pessoa completamente lógica? Ou ele se deixa levar pela intuição de vez em quando? Ele é analítico e observador ou dá mais atenção ao panorama geral do crime? Quais são as suas idiossincrasias? O que o ajuda a pensar? Ele tem algum vício? Problemas familiares?
    • São esses pequenos detalhes que tornam o personagem mais real.
    • Por exemplo: Sherlock Holmes é um personagem lógico e nunca confia em palpites. Contudo, ele é tão lógico que tem dificuldade para manter boas relações sociais — afinal, não é muito emotivo. Dentre as suas peculiaridades estão: precisar sempre se sentir superior a alguém, tocar violino e fazer experimentos para descobrir mais sobre como resolver crimes.
  7. Você pode começar o enredo com a vítima já morta e, depois, desvendar os detalhes da vida dela aos poucos. Se preferir, apresente-a viva no começo e só mostre o assassinato em seguida.
    • Pense em como a vítima pode contribuir com a história em vida. Por exemplo: se o personagem é simpático e agradável, o leitor vai ficar mais empenhado em ver o assassino atrás das grades. Por outro lado, se ele é a antipático e desprezível, o leitor pode até nem julgar as ações do criminoso.
    • Pense em uma história de fundo para a vítima. Fale dela aos poucos para o leitor se identificar (ou não) com esse personagem.
    • Você pode até transformar um dos possíveis suspeitos como segunda vítima mais adiante. [11]
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Parte 3
Parte 3 de 4:

Estruturando o enredo

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  1. Essa ação pode ser dramática, como colocar o protagonista em uma situação de risco, ou uma prévia do que vem mais adiante no romance. Se preferir, você pode até usar algo simples para tirar o herói da rotina e lançá-lo em uma jornada cheia de altos e baixos. [12]
    • Não se esqueça de incluir detalhes do cenário onde o enredo acontece aos poucos para o leitor saber onde os personagens estão.
    • Por exemplo: O código Da Vinci , de Dan Brown, começa com a morte dramática de um curador do Louvre e já capta a atenção do leitor.
  2. Você pode apresentar os suspeitos ao leitor por meio de interações com a vítima antes do crime — que o detetive presencie. Também é legal colocar uma testemunha ou outra pessoa que indique quem são esses possíveis suspeitos. [13]
    • Por exemplo: o detetive pode presenciar uma discussão entre o suspeito e a vítima antes do crime.
    • O detetive também pode conversar com um vizinho da vítima e perguntar algo como "Você consegue imaginar alguém que tinha problemas com a vítima?". Talvez essa pessoa diga "Bom, vejamos. Eu vi um rapaz visitar fulana à noite algumas vezes, quando o esposo dela estava viajando. Pode ser que ele esteja envolvido".
  3. Um suspense é ágil e ininterrupto. Sendo assim, você provavelmente vai afastar alguns leitores se não apresentar o assassinato até o terceiro capítulo. [14]
  4. Conforme escreve o seu romance, você decerto vai notar que não sabe tanto assim sobre cometer um assassinato. É normal, mas vale a pena fazer uma pesquisa aprofundada sobre o assunto para deixar o texto mais realista. [15]
    • Por exemplo: esfaquear uma pessoa não é tão fácil quanto parece. É difícil enfiar uma faca em alguém, ainda mais alguém que resiste e consegue se defender.
    • A maioria dos assassinos "amadores" comete erros — já que essas pessoas não são treinadas para matar e não sabem muito bem como agir, o que acaba gerando falhas e facilitando o trabalho do investigador.
    • Pense também em formas de ocultar um cadáver. Carregar um corpo é difícil e é óbvio que levanta suspeitas. Além disso, é normal haver rastros de sangue e DNA no local do homicídio. Por fim, abrir uma cova também demora, enquanto o defunto pode acabar sendo encontrado se for desovado em um rio.
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Parte 4
Parte 4 de 4:

Contando a história

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  1. O texto vai ficar chato se todos os interrogatórios acontecerem no mesmo lugar. Portanto, coloque os personagens em ambientes diferentes: a cena do crime, a delegacia de polícia, a rua etc. [16]
  2. Você pode até citar uma impressão digital ou pilha de lanterna esquecida no fim da narrativa, mas isso é injusto com o leitor. Mostre todas as pistas a ele ao longo da história. [17]
    • Por exemplo: diga que o assassino esqueceu a lanterna na cena, mas que tinha levado todas as outras coisas do local; mostre também os testes com as impressões digitais no acessório.
  3. As pistas podem apontar para uma ou várias pessoas que pareçam candidatas perfeitas para o crime, mas que acabem sendo reveladas como inocentes. Essa tática é muito comum e você pode usar e abusar dela. [18]
    • Por exemplo: talvez um dos suspeitos goste de fazer trilha no meio do mato e haja pegadas de terra na cena do crime. Na verdade, pode ser que essas pegadas sejam de uma mulher que passou no local com as solas dos sapatos sujas.
  4. Deixe sempre um gosto de quero mais ao longo do livro para intrigar o leitor. Lembre-se de que a narrativa é a sua arma mais importante e não se perca. Siga essa história do início ao fim. [19]
    • Traga um elemento novo para a história a cada capítulo. No fim de cada trecho do livro, fisgue o leitor para ele continuar explorando o que aconteceu: apresente novas pistas que levem a um suspeito diferente, por exemplo.
  5. Todo bom suspense traz uma reviravolta que pega o leitor de surpresa no final. Não pense em nada abrupto ou injusto, e sim que tenha lógica e esteja ligado às pistas que você soltou ao longo da narrativa. [20]
    • Por exemplo: talvez as pistas indiquem que o assassino é o filho único de um milionário porque era o único com motivo aparente; no entanto, a verdade vem à tona: o homem teve uma filha fora do casamento e que também receberia a herança. Nesse caso, ambos se encaixam no papel de suspeitos.
    • O clássico Assassinato no Expresso Oriente , de Agatha Christie, também tem um belo exemplo de reviravolta. No fim, o leitor descobre que todos os suspeitos agiram em conluio para cometer o crime.
  6. Depois que o assassino for pego, reflita se os personagens mudaram para melhor ou pior e mostre-os retomando a rotina. [21]
    • Por exemplo: talvez o detetive extrapole a linha da ética e decida deixar a profissão. Nesse caso, a nova realidade dele vai ser buscar um emprego.
    • Pode ser também que o detetive não tenha experiência, mas acabe sendo promovido por resolver um caso tão complicado.
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Dicas

  • Trace uma meta todos os dias. Você pode pensar em termos de palavras, como escrever 500, ou tempo, como três horas. O importante é se ater a essa rotina.
  • Leia obras consagradas do gênero suspense para se familiarizar com ele.
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